terça-feira, 22 de junho de 2010

Dos tempos 8.




Ele jurou que não ia me perder. Prometeu a si mesmo. Confessou em voz alto e eu estava do lado. Não sei se ele sabia que eu não estava mais dormindo, por enquanto que me olhava dormir. Sentir de leve as pontas de seus dedos tocando a minha face. Não sabia distinguir se era a continuidade de um sonho ou era só abrir os lhos e ver que era real. Mas, eu preferir continuar de olhos fechados só sentindo. Sentindo o amor, o calor de seu corpo, o cheiro do seu suor. De olhos fechados ainda parecíamos um só e as imagens dos momentos anteriores vinham em seqüência. Umas mais vivas outras mais distantes. Ele continuava a conversar só, com seus pensamentos e sentimentos. Se dizia feliz, o mais feliz do mundo. E sibilava “meu amor”. Não vi, ou vi? Mas o som baixo da frase me fez ver seus olhos transbordarem num brilho em forma de lágrima. Esse era o momento de abrir os olhos e secar suas lágrimas com as costas das mãos. Seguido de sorrisos e carícias.

Mas, não o fiz. Continuei de olhos fechados. Agora quis estar em sono profundo. Foi aí que de peito apertado eu comecei a desconfiar de mim. Do amor que jurei sentir. Meu amor? Ele era mesmo o meu amor? E todo acalento passou num instante e se fez tão centrípeto. Todo sentimento bom se comprimindo a mediada que ia em direção ao centro de mim. Aquele escudo, que vai e volta. Que tira a liberdade e a fragilidade de ter nos braços do outro tudo que se precisa para viver. O encanto de saber amar se esvaindo em pensamentos calculistas. Na minha frieza de continuar de olhos fechados ocultando paranóias.

E ele? Ele não fazia idéia de minhas “maquinações”. Eu sabia disso. Isso me tranqüilizava. Bastava um de nós sofrendo. Bastava um de nós forjando o amor. E agora? Me mantenho falsa ou acabo com tudo. Acabar com ele era acabar comigo também. Eu podia não amá-lo como ele dizia me amar. Mas de certa forma o amei. Eu só não podia cumprir uma promessa que nem era minha. Ele ia me perder. Era isso que me amedrontava.

Muitas vezes sonhei com alguém assim como ele. Alguém que me completasse e me amasse. Ele apareceu, fugindo das regras dos tipos masculinos. Romântico, carinhoso, inteligente, engraçado, fiel, endinheirado e com um físico impecável. Um homem ideal. Porém, óbvio, singelo...e pouco safado. Gosto particularmente da sua simplicidade e de sempre estar disposto a ouvir, mesmo quando o que é dito nada interessa. Alguém capaz de roubar o ar e alimentar os sonhos. Mas de olhos abertos escapa-me a dimensão do seu ser.


A culpa é minha. É sempre minha. Até com o mais perfeito dos seres eu descubro motivos para seguir só. Para ser leal a minha intolerância aos compromissos. As eternidades. Aos juramentos. O medo de me achar em uma vida sem mais perdições. Por um lado é isso. Por outro, é o medo. O medo de que a realidade volte a ser imaginação. O medo de perder, de sofrer, de acabar. De voltar a contra gosto a ser só. Agora só do avesso. Só porque o amor dele acabou. E não só porque eu gosto de seguir só. É medo que nos mata. O medo de seguir em frente...de abrir os olhos. É o cúmulo do absurdo. É ser mais que imatura para relacionar-se. Até quando vou fugir da felicidade. De amar e ser amada.

Se a mamãe tivesse aqui, talvez ela pudesse me ajudar. Quem sabe a Madá?! Hum...


Por Bia.

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