segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Passagens das leituras...




“Quando viajamos vagarosamente e com grande esforço, as paradas devem ser longas e freqüentes. Quando temos a possibilidade de viajar rápido e frequentemente, devemos também, ainda que por diferentes razões, esperar paradas e descansos freqüentes. Quanto maior o número de estradas, maior números de cruzamentos haverá.” (STRAUSS, p. 379).

Fonte: LÉVI STRAUSS, Claude. XIII- A família.In: SHAPIRO L., Harry. Homem, cultura e sociedade. Martins Fontes,. P. 355-380.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Completamente apaixonante e apaixonada...


"Las montañas descansan bajo, el esplendor de los astros;
Pero también brilha en ellas el tiempo.
Al raso de mi corazón selvaje,
duerme la inmortalidad".

Os quatro últimos versos de um poema de Rilke, por Hannah Arendt.

Tradução livre:

"As montanhas descansam lá em baixo, sob o esplendor das estrelas;
 Mas nelas brilham também o tempo.
Na abertura do meu coração selvagem,
dorme a imortalidade". 

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Meu Diabo.

Meu Diabo é criador, criativo e criatura.
Criança, faz bagunça,
Perde sentido, da risada, faz quizomba e zomba,
Não apanha nem dá porrada,
Até chora sem sentir dor.

Meu Diabo é cativo,
De canto,
Entoa canto,
Alegra festa
E dá fim em desencanto,
Pula e canta,
Sente calor.

Meu Diabo também é anjo,
Imaculado, Virgem Maria.

Meu Diabo é rainha,
Majestade da alegria.

Meu Diabo enfurecido,
Não relampeja nem alça vôo,
Ele peleja,
É sofredor,
É Jesus Cristo
Na arte do amor
Dá a outra face em piedade
E nunca se sente um perdedor.

Meu Diabo é som de flauta,
É doce feito água cristalina,
É sapeca feito palhaço e adora
Dançar na corda bamba feito equilibrista.

Meu Diabo é exorcista,
Ele que purifica e tira dos olhos
A maldade,
E com a mão espalha pétalas de flores perfumadas,
Por onde passa.

Meu Diabo é do mato, mas é domado,
Domesticado.
É torto feito a linha do destino,
Mas morre de medo do errado.

Ó meu pobre, rico e bom Diabo.
Quase que não tens pecado.
Por pouco, por muito pouco,
És consolado...
Mesmo por quem atiras pedra em seu telhado.

Esse é o meu Diabo,
Um coitado,
Que o dito ser humano,
Faz dele gato e sapato,
E a culpa ainda é do meu,
Pobre, rico e bom Diabo.


La Baca (LOCA).





segunda-feira, 27 de junho de 2011

Happy Day Gay!!!

Arte minha ^.^



Brevemente...hoje me deu vontade de escrever algo diferente. Diferente do venho escrevendo. Hum...difícil! O que geralmente me motiva escrever é o amor, o desamor, curiosidades...pensamentos confusos, teorias inventadas, estórias inventadas, personagens fictícios. Aqui eu me furto escrever sobre coisas “sérias” porque volta e maia escrevo sobre mim. E não me dou o menor crédito. Mas hoje também pensei em fazer uma homenagem, ou deixar um registro bobo qualquer, sobre o dia do orgulho gay celebrado em São Paulo, Brasil, neste dia 26-06-11. Mas, não quero escrever com tom de reportagem ou de análise científica de qualquer tipo. Mas, sabendo o que quero com o escrito fiquei com medo de não escrever coisa algum - às vezes, faço isso também!

Vamos lá.

O que tem de diferente este ano? Esta é 15º edição, mas para mim é como se fosse à primeira. Aí me perguntei por que só dei atenção agora? Dei tanta atenção que ontem meia noite eu estava na internet lendo reportagens sobre o assunto e me bateu uma vontade imensa de fazer parte dessa festa. Para dizer a verdade até sonhei me vendo lá, tendo contato com mais de três milhões e meio de pessoas. Eu seria só mais uma na multidão é verdade. Mas não seria qualquer multidão, não seriam quaisquer pessoas. É emocionada que eu escrevo isso. São pessoas corajosas, pessoas que vão à rua, levantam bandeira, dançam, cantam, namoram, fazem amizade, devem brigar também porque numa festa de multidão nem tudo deve ser lindo! Mas são pessoas que estão lá na Av. Paulista, envoltas de glamour, borbulhando de ORGULHO, para celebrar! Comemorar a própria diferença de forma simbólica. Eu diria uma diversão militante, no sentido de estar ali consciente e para conscientizar. Algo que significa muito num país que só há três semanas atrás, finalmente, aprovou a realização jurídica do casamento (união estável) entre pessoas do mesmo sexo. Isso, fazendo valer o Estado laico que versa a constituição brasileira e consequentemente garantindo tal direito civil básico para essas pessoas tidas como minoria no nosso país tido como democrático!

Mesmo sendo necessário o reconhecimento das recém vitórias no plano jurídico, como a também recém aprovada lei que criminaliza a violência contra homossexuais. Ainda assim, creio que grande parte dos que hoje foram às ruas comemorar e dos que como eu não foram, mas se sentiram contagiadas (os) pela onda do Happy Day Gay (GLSBTT) sabem que a guerra esta longe de ser vencida. Uso o termo “guerra”, não só, como mero jargão popular, mas sim, por fazer alusão a luta cotidiana que essas milhares de pessoas enfrentam. Ora que pessoas? Ora que luta?

Lá em cima, no primeiro parágrafo no qual me direciono ao tema tratado, chamo as três milhões e meia de pessoas que estiveram celebrando na Av. Paulista hoje de “corajosos” e igualmente me orgulho do orgulho deles. Mas quando uso termo luta, me refiro, a todos e todas que em algum momento de suas vidas já passaram por alguma cena constrangedora, julgadora, acusadora, criminalizatória por ser homossexual, bissexual, transexual, trangênero, simpatizante ou qualquer outra nomenclatura insurgente que aparece com o intuito de rotular, taxar, ferroar, encaixotar os tidos como “diferentes”.  

As nomenclaturas têm duas faces nítidas para mim. A primeira surge para apartar, no sentido de excluir e sempre são utilizadas com roupagens jocosas para discriminar, tais como: machinho, sapatão, bicha, viado, puta, anormal, pecador e geralmente são cunhados pelos defensores vorazes da heteronormatividade. Já a segunda face, aparece com o intuíto de gerar o reconhecimento entre os iguais, neste caso, os “diferentes” criam termos identificáveis e identificantes, se chamam e se reconhecem como tais, no sentido de criar um símbolo comum que os expressem de maneira auto defensiva contra possíveis discriminações. Assim, a sigla GLBTTS e Q é um modo de ser, agir, conscientizar que representa o segundo sentido do que entendo por nomenclatura. Em outros termos é um elo de luta, uma arma poderosa contra a fúria homofóbica cotidiana (não só homofóbica, bifóbica, lesfóbica e por vai). Por isso, o dia do orgulho gay para mim se faz tão sentido e importante, mais agora do que nunca.

Também quero ressaltar que a “luta cotidiana” é bem mais perversa para aqueles que se encontram no chamado “armário”. Me refiro aos “invisíveis”, ou melhor, aos que tentam levar a vida na cômoda e segura não declaração da orientação sexual. Não digo isso, para agredir, mas para alertar. Muitos julgam os que tentam se esconder nas sobras da invisibilidade da própria sexualidade de “fracos, covardes” e sei lá mais o que. Mas, se assim preferem, é porque na sua maioria nasceram em um mundo no qual a “violência” psicológica, física e moral é cunhada desde a barriga da mãe. No mundo (sociedade, país), hipócrita, ainda em muito (principalmente em regiões tidas como mais tradicionais como o nordeste), preso as amarras cristãs, patriarcais, sexistas que em pleno século XXI preferem agredir de todas as formas os familiares homoafetivos.  No qual, é no seio, da tão afamada “família”, por meio desta e em nome desta, que as injurias e torturas (físicas e psicológicas) começam ser aplicadas.  

Assim sendo, cabe os que julgam tentar entender e respeitar. E mais tentar compreender essas pessoas “invisíveis” que no fundo sentem e sabem que também fazem parte dos auto denominados acima citados. Cabe uma sensibilidade no olhar, no compartilhar experiências e no mostrar o longo e difícil caminho a ser percorrido até chegar a Av. Paulista para celebrar mais um ano de orgulho gay. Pois, é compreensível que para algumas pessoas e gerações o tempo para a auto aceitação, para cicatrizar as feridas causadas pela família, pelos amigos, colegas e sociedade de modo geral, não é o mesmo. Diria eu, que felizes são os que encontram forças para lutar pelo que entendem como felicidade. E tal descoberta é bem vinda e o quanto antes melhor.



sábado, 12 de março de 2011

Vhils...arte urbana...



As ‘imagens – artes’ acima, abaixo e dos lodos que seguem são fruto da criatividade do jovem artista português Alexandre Farto, de apenas 23 anos e também conhecido mundo a fora como Vhils. Como salta aos olhos a sua arte, ora nominada de “Scratching the Surface”


(escavando a superfície - leia mais: http://obviousmag.org/archives/2010/06/grafittis_esculpidos_por_alexandre_farto.html#ixzz1GKDpwFMe), é um revelar de rostos nas paredes e muros urbanos. Fazendo-nos surpreender com expressões humanas tão precisas que parecem se desprender do concreto e se mesclar a multidão vagante em movimento.


O artista mescla elementos da chamada arte de rua ou urbana com elementos novos e inimagináveis até então: grafite (sprays, stencils e tintas), com explosivos, madeiras, papelão, placas de metal, chegando a animações gráficas, dentre outros. Nas suas palavras, sua arte final é inesperada é inconclusiva para ser fiel ao objetivo de resgatar o “efêmero”, o inconstante que cabe aos seres humanos urbanos quase simbióticos com o meio – via o tal do meio – superfícies concretas – muros, paredes, ruínas abandonadas e degradadas. Ele cria uma atmosfera de atenção para os locais-objetos velhos, mortos, frios, depreciados e ainda consegue resgatar a efemeridade humana. O cara é um gênio.



Se pensarmos que o prédio que hoje é um local abandonado e serve de abrigo para tantos seres igualmente esquecidos por nós (qualquer um de nós e pelo Estado – poderes públicos) e que há anos atrás fora um marco da arquitetura antiga, clássica, moderna ou algo parecido que atraia um chamariz de gente que utilizava tal espaço para prosas, compras, bailes e etc. E que o mesmo espaço, que mal percebíamos ao andar pelas ruas, e que só esperávamos o tombamento ou a demolição e que do dia para noite ganha um novo significado artístico social por ser capaz de vir novamente a despertar nada mais nada menos do que atenção. Uma atenção que foge a mera ‘utilidade e necessidade’ (no sentido de serventia do que se fazia ali), uma atenção voltada para o despertar de sentimentos e para compreensão de nós mesmo no mundo urbano – isto é: a relação que desenvolvemos com o ambiente que fazemos parte no nosso cotidiano e no simples gesto do ir e vir. Tai, a arte de Vhils, me fez ir além do universo mundano que estou acostumada. Quando falamos em mundo e em relações no mesmo, geralmente só me remeto aos seres humanos e as relações diretas de interação entre os mesmos. Sim, quando penso em interação, é inerente não pensar num contexto, no chamado ambiente, mesmo que igualmente de maneira imediatista. Essas reflexões me remetem também a uma famosa frase que pode ser disparada em meio uma situação conflitante: o mundo não gira em torno do seu umbigo! Uau. É bem aí que quero chegar. Quando passamos a olhar em volta, a tentar gravitar para além do próprio umbigo, o mundo deixa de ser reducionista e se expande. Como? Pois é. Da mesma forma que não existe só eu no mundo, o mundo que cabe o meu mundo e o mundo de tantos outros é o mundo compartilhado. Seja, paralelo, intercruzo e certamente simultâneo. O mundo compartilhado de todos, esse mundo de paisagens, construções, regras, leis...e por que não caos, desordem, inovação...é o mesmo mundo que ‘toc-toc’ contagia! É o mundo compartilhado é o mundão que faz o nosso mundinho girar. É mundo que transforma, toca, retoca, retira, quebra, cospe e esmaga a rotina de nós mesmos.

A arte para mim é um pouco assim, isso quando é reconhecida, quando já atingiu o patamar de consagrada e genial – conhecida periga, pois corre o risco de perder o ‘bom gosto’ das galerias de renome, por cair no gosto da massa! Mas na era da informação: REDES – esse pensamento pequeno burguês não cabe mais! Aí – doeu! Mas, voltando: uma vez conhecida a arte vira “mundão” a iluminar, ou melhor, influenciar e fazer pulsar “mundinhos”. Mas, volto de novo, só que de trás para frente: não existiria arte sem o “mundinho” criativo do artista. Nesse estágio, não reconhecido, o artista, que nem é taxado como tal ainda, é apenas um excêntrico dando a cara ao tapa e vomitando para o mundo: ei, o que eu faço é bom, pode ser novo, merda, besta, mas é bom! Nesse fase o cara grita e tem vontade de se enterrar vivo após cada exposição fracassada e olhares de recusa. Mesmo dando murros em pontas de facas, o tal, segue acreditando no próprio talento. Então: por tal ato de coragem e sobrevivência ele, ela, ou bis faz do umbigo o próprio mundo. Como um blindex aos ‘nãos’ sonoros. E mundo lá fora segue por anos inabalável. Até que não sei como: eu não diria que pelo golpe de sorte do destino, ainda aposto na persistência do talento subjugado, o reconhecimento vem. A fama, a glória, a grana...ah isso deve ser bom! E o mundinho vira mundão! E o mundo segue!



Isso tudo me remete as mudanças de valores e de condutas. Essa transição artística do reconhecimento é o que todo artista talentoso busca. Mas a primeira questão: de volta ao meu umbigo – é o que todo cientista social quer entender. Ah, você não precisa ser cientista social para querer entender o surgimentos de novos valores que desencadeiam novos modos de vida, novas posturas e a solidificação dos mesmos em termos de leis, internalização das novas regras e tals, e tals...basta ser curioso(a) mesmo! Sabe, o gosto pela arte, parece vir da Grécia, de lá para cá, a concepção sobre a mesma, certamente mudou.



Então, a arte que pretensamente comentei – com brevidade, é igualmente um reflexo do nosso tempo e devir hodierno. Por isso, hoje, Vhils soa como brilhante para mim.