...mal acordada brotam lágrimas diante das cores da TV. Talvez seus sons, algumas mensagens afetivas de natal, um sorriso marginal que despertou alguma lembrança ou sonho de dias melhores. Agarrei-me ao terço da minha mãe, velho, castigado, marrom e tão forte. Não por ter fé, tenho pouca, mas pela sensação confortável daquelas contas passando pelos meus dedos finos e lentos. Ao certo a incerteza de por quê isso e de pronto mais lágrimas e paz. Sinto uma exortação, um esvaziar do próprio vazio momentâneo. O trânse é interrompido por mais vozes da mãe dizendo algo sobre a cozinha e cozinhar, da TV falando coisas que não me detive. Respondo algo que também escapam aos sentidos. Penso no poder do café, mal acordada e volto ao banheiro, arranco as roupas e canto, um canto meu, uma invenção qualquer, algo que gravo e sigo inventando o quê chamo de música. Isso alegra e preenche, pois arromba as portas dos meus sonhos mais íntimos, profundos, genuínos ao passo que bobos. O quê se busca encontra-se eternizado em si, tal qual um poder mágico.
Através desse espaço compartilharei inquietações criativas. Músicas, poesias, frases soltas, resenhas de A à Z. Viagens sobre a interpretação que faço do mundo. Abertas ao julgo de todos.
sábado, 24 de dezembro de 2016
quarta-feira, 21 de dezembro de 2016
quinta-feira, 1 de dezembro de 2016
A cena
Não sei porque, mas sempre em movimento, em trânsito como
epicentro. Estava andando pela rua distraída, sem muito me deter a nenhum
pensamento, segurava um livro que estava lido até a metade, tinha acabado de
atingir a página 150, 50 laudas só no consultório médico. Meu objetivo era chegar a banca de revistas.
Nos esbarramos, o livro caiu das mãos, nos abaixamos para pegá-lo e nesse ato
nos entre olhamos pela primeira vez, ali vi um brilho intenso e dissemos ao
mesmo tempo “desculpa”. Levantamos e acenei com a cabeça um sim, de tudo bem,
nos demos as costas e logo viramos, também ao mesmo tempo, as cabeças para
trás, mesmo os nossos corpos indo, os nossos olhares tramavam ficar um pouco
mais. Milésimos de segundos, tempo suficiente para eu me apaixonar (não posso
falar por ela, mas penso que foi recíproco). Parei e me voltei em sua direção,
ela viu e parou ao meu sinal. Troquei algumas palavras dizendo ela que meu
gesto parecia loucura, mas mesmo assim eu iria arriscar e pedi seu número de
WhatsApp. Não existia mais coração em mim, mas um liquidificador velocidade
máxima, não deu para conter o suor frio e as mãos trêmulas, algo bem primeiro
amor, desses que falta oxigênio no cérebro e dificulta o processamento das
ideias. Outros milésimos de segundos, verdadeira eternidade. Ela disse “tudo bem” e foi dizendo o número. O
nervoso aumentou e mesmo com as vistas embaçadas conseguir digitar e salvar na
minha agenda. Nos despedimos com o meu obrigada e sinalização de que a mandaria
uma mensagem. Dali em diante a euforia e o medo me invadiram, com mil “sis” na
cabeça e o coração galopante. Esqueci da banca de jornal, entrei em um jardim,
avistei uma sombra e sentei embaixo da árvore. Precisava respirar.
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