sábado, 12 de março de 2011

Vhils...arte urbana...



As ‘imagens – artes’ acima, abaixo e dos lodos que seguem são fruto da criatividade do jovem artista português Alexandre Farto, de apenas 23 anos e também conhecido mundo a fora como Vhils. Como salta aos olhos a sua arte, ora nominada de “Scratching the Surface”


(escavando a superfície - leia mais: http://obviousmag.org/archives/2010/06/grafittis_esculpidos_por_alexandre_farto.html#ixzz1GKDpwFMe), é um revelar de rostos nas paredes e muros urbanos. Fazendo-nos surpreender com expressões humanas tão precisas que parecem se desprender do concreto e se mesclar a multidão vagante em movimento.


O artista mescla elementos da chamada arte de rua ou urbana com elementos novos e inimagináveis até então: grafite (sprays, stencils e tintas), com explosivos, madeiras, papelão, placas de metal, chegando a animações gráficas, dentre outros. Nas suas palavras, sua arte final é inesperada é inconclusiva para ser fiel ao objetivo de resgatar o “efêmero”, o inconstante que cabe aos seres humanos urbanos quase simbióticos com o meio – via o tal do meio – superfícies concretas – muros, paredes, ruínas abandonadas e degradadas. Ele cria uma atmosfera de atenção para os locais-objetos velhos, mortos, frios, depreciados e ainda consegue resgatar a efemeridade humana. O cara é um gênio.



Se pensarmos que o prédio que hoje é um local abandonado e serve de abrigo para tantos seres igualmente esquecidos por nós (qualquer um de nós e pelo Estado – poderes públicos) e que há anos atrás fora um marco da arquitetura antiga, clássica, moderna ou algo parecido que atraia um chamariz de gente que utilizava tal espaço para prosas, compras, bailes e etc. E que o mesmo espaço, que mal percebíamos ao andar pelas ruas, e que só esperávamos o tombamento ou a demolição e que do dia para noite ganha um novo significado artístico social por ser capaz de vir novamente a despertar nada mais nada menos do que atenção. Uma atenção que foge a mera ‘utilidade e necessidade’ (no sentido de serventia do que se fazia ali), uma atenção voltada para o despertar de sentimentos e para compreensão de nós mesmo no mundo urbano – isto é: a relação que desenvolvemos com o ambiente que fazemos parte no nosso cotidiano e no simples gesto do ir e vir. Tai, a arte de Vhils, me fez ir além do universo mundano que estou acostumada. Quando falamos em mundo e em relações no mesmo, geralmente só me remeto aos seres humanos e as relações diretas de interação entre os mesmos. Sim, quando penso em interação, é inerente não pensar num contexto, no chamado ambiente, mesmo que igualmente de maneira imediatista. Essas reflexões me remetem também a uma famosa frase que pode ser disparada em meio uma situação conflitante: o mundo não gira em torno do seu umbigo! Uau. É bem aí que quero chegar. Quando passamos a olhar em volta, a tentar gravitar para além do próprio umbigo, o mundo deixa de ser reducionista e se expande. Como? Pois é. Da mesma forma que não existe só eu no mundo, o mundo que cabe o meu mundo e o mundo de tantos outros é o mundo compartilhado. Seja, paralelo, intercruzo e certamente simultâneo. O mundo compartilhado de todos, esse mundo de paisagens, construções, regras, leis...e por que não caos, desordem, inovação...é o mesmo mundo que ‘toc-toc’ contagia! É o mundo compartilhado é o mundão que faz o nosso mundinho girar. É mundo que transforma, toca, retoca, retira, quebra, cospe e esmaga a rotina de nós mesmos.

A arte para mim é um pouco assim, isso quando é reconhecida, quando já atingiu o patamar de consagrada e genial – conhecida periga, pois corre o risco de perder o ‘bom gosto’ das galerias de renome, por cair no gosto da massa! Mas na era da informação: REDES – esse pensamento pequeno burguês não cabe mais! Aí – doeu! Mas, voltando: uma vez conhecida a arte vira “mundão” a iluminar, ou melhor, influenciar e fazer pulsar “mundinhos”. Mas, volto de novo, só que de trás para frente: não existiria arte sem o “mundinho” criativo do artista. Nesse estágio, não reconhecido, o artista, que nem é taxado como tal ainda, é apenas um excêntrico dando a cara ao tapa e vomitando para o mundo: ei, o que eu faço é bom, pode ser novo, merda, besta, mas é bom! Nesse fase o cara grita e tem vontade de se enterrar vivo após cada exposição fracassada e olhares de recusa. Mesmo dando murros em pontas de facas, o tal, segue acreditando no próprio talento. Então: por tal ato de coragem e sobrevivência ele, ela, ou bis faz do umbigo o próprio mundo. Como um blindex aos ‘nãos’ sonoros. E mundo lá fora segue por anos inabalável. Até que não sei como: eu não diria que pelo golpe de sorte do destino, ainda aposto na persistência do talento subjugado, o reconhecimento vem. A fama, a glória, a grana...ah isso deve ser bom! E o mundinho vira mundão! E o mundo segue!



Isso tudo me remete as mudanças de valores e de condutas. Essa transição artística do reconhecimento é o que todo artista talentoso busca. Mas a primeira questão: de volta ao meu umbigo – é o que todo cientista social quer entender. Ah, você não precisa ser cientista social para querer entender o surgimentos de novos valores que desencadeiam novos modos de vida, novas posturas e a solidificação dos mesmos em termos de leis, internalização das novas regras e tals, e tals...basta ser curioso(a) mesmo! Sabe, o gosto pela arte, parece vir da Grécia, de lá para cá, a concepção sobre a mesma, certamente mudou.



Então, a arte que pretensamente comentei – com brevidade, é igualmente um reflexo do nosso tempo e devir hodierno. Por isso, hoje, Vhils soa como brilhante para mim.