Sair à revelia e entrei no primeiro boteco que apareceu na frente. Nesse dia bebi sozinha, eu que não gostava de cerveja por achar amarga a degustei docemente. Eu e aquela loira gelada tipo véu de noiva. Desceu rasgando e queimando em azia. Mas foram os goles mais rápidos e saborosos da minha vida. Não era bem a bebida, fora o contexto, fora a ocasião. Sabe aqueles dias que tu tem vontade de jogar tudo pro ar, mas nesse dia eu não quis chutar o pau da barraca. Eu rodei a baiana dentro de mim. Dei um giro na vida. A fiz colorida, a botei com todo gosto de cabeça para baixo. Finalmente quebrei a rotina. A começar pelo ônibus, resolvi ir para um bairro desconhecido, resolvi descobri-lo à custa de me perder. E me perdi! Desci instigada, com o espírito de porco que alimentava há um tempo, todo meu. Sabe, abri a Caixa de Pandora e pus pra fora a Padilha de dentro de mim. Por isso o álcool, o boteco e as caras e bocas que em breve seriam luxurias. Alguém se aproximou e Alexandra surgiu, não era mais Madalena de nascença. Foi incrível, o que me deu?! Só sei que eu podia ser quem bem quisesse. Naquele inferninho foi-se caindo à tarde, as luzes da cidade se ascenderam, mas lá dentro já era noite a muito tempo. E a luz era vermelha, também tinha um globo de boate. Porque não me dei conta assim que cheguei. Só vi mesmo quando me tiraram para dançar. Rá, dançar?! Madalena nunca dançou, dura feito quiabo de geladeira. Mas, Alexandra era cheia de gingado, baianinha, baianinha. Finalmente me identifiquei na música de Cayme “quem não gosta de samba bom sujeito não é, é ruim da cabeça ou doente do pé”! Alexandra parecia ter “nascido para o samba e no samba ter sido criada”. Quanto molejo havia no seu gingado. Mesmo desprovida de boas ancas ela tava que tava e os tipos em volta a devorava. Ela percebia os olhares e se desmanchava. Nunca pensei ser tão sedutora, vi um reflexo no pedaço de espelho pendurado no balcão e tive vontade de possuí-la igualmente. Mas era eu, então desejo interrompido. Alexandra nada falava, não sei se era o efeito alcoólico, mas só sorria e olhava à medida que seduzia. Sem meio termo, sua companhia queria mais e ela deixou. Deixou as mãos escorrerem pelas pernas e tomar seus seios. Deixou sua boca entre aberta para língua penetrar. Ela estava fora de si, e de mim também. Naquele lugar a levitar, uma leveza natural. Só não saiu do chão porque a essa altura seus cabelos se enroscavam naquelas mãos levianas. Nem seu suspiro ofegante foi capaz de quebrar o ritmo. E a música parou, o globo começou a girar, com seu jogo de luzes piscantes. O que passava em sua mente? Nada, absolutamente nada e a cantada mais idiota lhe excitava “vamos curtir o momento”. E amanhã?! Não existe amanhã. Já teve tudo aqui e agora. Sua companhia insistia – seu número, e-mail, como faço pra vê-la novamente. Ela disse - Adeus “monamur”! Pagou sua cerveja e deu o troco a um mendigo em troca de seu fósforo. Fuma? Alexandra fumou. E não fora qualquer cigarro! Onde arranjará aquilo mesmo?! Não faço a mínima idéia. Trocava pernas como se tivesse de sapato alto. Atravessou a rua e um traveco gritou “saí fora que aqui tem dona”. Alexandra riu, não disse nada e continuou andando. Estava atraída pela brisa marítima. Pena que a lua era minguante, e o céu estava carregado de nuvens e sem chance para estrelas. Bom, porque ela reluzia e seu suor, uma mistura de álcool, cigarro e perfume barato atraiu até os cachorros e gatos abandonados ao relento. Seguia “sem lenço e sem documento”, e não era dezembro. Pouco importava os perigos da madrugada. Ela queria ver o sol chegar deitada na praia. Lá acordou com lambidas de um vira lata em sua boca. Toda babada de saliva canina. Com areia até na calcinha. Era eu, defronte ao mar com uma puta dor de cabeça e vomitando as tripas, porque só bebi, e mais nada.
Por Madalena.
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