terça-feira, 4 de maio de 2010

Dos tempos 2.


A cada dia que passa nossa relação fica mais difícil. Bia tinha cinco anos quando Laura faleceu e a partir dali era só eu para cuidar, me preocupar e ensinar tudo mais. Tínhamos o mundo pela frente, só eu e ela. Eu me sentir tão amedrontado, tão desprotegido com esta situação. Ela só tinha a mim e eu só tinha a ela. De certa forma estávamos sós, sem chão, sem nosso Porto Seguro. Mas foi esta situação que inexplicavelmente vem me dando forças até agora. Me deu mais força naquela época. Eu estava atordoado, nada fazia muito sentido. Mas eu não podia ser egoísta, não naquela hora. Aprendi muito com Laura, a vida a dois é uma sensação de pertencimento faz com que nos desprenda de nós mesmos. E naquele momento eu tive que ser acima de tudo um pai. Um pai que a partir dali seria pai e mãe. Nos anos da infância foi mais fácil que agora. Mal nos falamos e quando nos falamos é para brigar. Não posso abrir a boca que ela já me vem com ‘quatro pedras nas mãos’! Me pergunto onde está aquela menina doce, o que esta acontecendo, o que foi que eu fiz? Será que sou tão mau pai assim? Sei que sou rígido, sei que ‘nego’ mais do que permito, sei que ajo assim por medo. Eu tenho medo que ela se machuque, que alguém a faça sofrer. Eu tenho medo das más influências, eu tenho medo que ela se deslumbre e se deixe levar. Por isso “proíbo”, proíbo quase tudo. Sei o quanto isso é insensato, sei que é um pouco por isso que estamos tão distantes agora. As vezes me falta fôlego, palavra, ação. Na última discussão ela jogou na minha cara “do que você tem medo, não quer que eu seja como você? Não confia na criação que me deu?”. Não tive reação, ela me desarmou, essas perguntas foram um choque! Ela esta coberta de razão, a criei bem, ela não é uma ‘Maria vai comas outras’, lhe ensinei valores e princípios e o tempo e todos a sua volta (nossa família) ajudou a formar o seu caráter. A admiro por ser exatamente o oposto de mim. Ela não é nem um pouco acomodada e covarde. Já eu me conformo com pouco, com o que convém. Ainda bem que puxou à Laura, com todo seu ímpeto. Ela é mais emoção, já eu sou razão. Ela não tem medo de arriscar para perder ou para ganhar. Já eu evito até jogar na loteria, para não me pegar sonhando em o que faria se ganhasse o prêmio. Nossas diferenças nas brigas ficam tão evidentes. O ruim é que reconheço sua razão, mas não ‘arredo o pé’ da minha. Eu não recuo. E sei que isso não é bom. Temo perder o controle, mas esse meu ar autoritário não me leva a nada. Tento achar uma maneira de reconquistá-la, de trazê-la para perto de mim, mas nada vejo, e me angustio. Ela também é fogo, vive aprontando, e em relação a isso, não posso fazer vista grossa – depois o ‘espinho cresce e me fura’, e aí!? Tô perdido, sinceramente não sei o que fazer. Espero que ela cresça logo, que saía dessa obscuridade que é a adolescência e que reconheça todo esforço que faço para criá-la. Que nós voltemos a ser amigos, só amigos, sem heroísmo. Ela também jogou na minha cara que não sou mais o seu herói. Posso ouvir a sua voz estridente ecoando nos meus tímpanos “acorda pai estamos no mundo real não existe contos de fadas e eu estou longe de ser sua princesinha!”. Ah, doeu ouvir isso! Eu a chamava de “princesinha” quando era criança. Tá aí a resposta – Os filhos crescem e os pais (pelo menos eu não sou exceção) não acompanham o ritmo, ‘era criança’ e esta se tornando ‘uma mulher’. E agora quem tem que aprender sou eu, Bia me ensina, papai também. Mas confesso em relação a isso nunca tirarei nota 10!

Por Marcio.

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