Não sei porque, mas sempre em movimento, em trânsito como
epicentro. Estava andando pela rua distraída, sem muito me deter a nenhum
pensamento, segurava um livro que estava lido até a metade, tinha acabado de
atingir a página 150, 50 laudas só no consultório médico. Meu objetivo era chegar a banca de revistas.
Nos esbarramos, o livro caiu das mãos, nos abaixamos para pegá-lo e nesse ato
nos entre olhamos pela primeira vez, ali vi um brilho intenso e dissemos ao
mesmo tempo “desculpa”. Levantamos e acenei com a cabeça um sim, de tudo bem,
nos demos as costas e logo viramos, também ao mesmo tempo, as cabeças para
trás, mesmo os nossos corpos indo, os nossos olhares tramavam ficar um pouco
mais. Milésimos de segundos, tempo suficiente para eu me apaixonar (não posso
falar por ela, mas penso que foi recíproco). Parei e me voltei em sua direção,
ela viu e parou ao meu sinal. Troquei algumas palavras dizendo ela que meu
gesto parecia loucura, mas mesmo assim eu iria arriscar e pedi seu número de
WhatsApp. Não existia mais coração em mim, mas um liquidificador velocidade
máxima, não deu para conter o suor frio e as mãos trêmulas, algo bem primeiro
amor, desses que falta oxigênio no cérebro e dificulta o processamento das
ideias. Outros milésimos de segundos, verdadeira eternidade. Ela disse “tudo bem” e foi dizendo o número. O
nervoso aumentou e mesmo com as vistas embaçadas conseguir digitar e salvar na
minha agenda. Nos despedimos com o meu obrigada e sinalização de que a mandaria
uma mensagem. Dali em diante a euforia e o medo me invadiram, com mil “sis” na
cabeça e o coração galopante. Esqueci da banca de jornal, entrei em um jardim,
avistei uma sombra e sentei embaixo da árvore. Precisava respirar.
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