Vamos lá.
Há uns três dias que sinto um cheiro de chulé! Aqui dessa
posição que me deito na cama. Quarto frio, amplo. Mas, não tenho chulé! O que
pode ser? Se não passar até eu voltar irei investigar. Mas, o que pode ser? Uma
bola de mofo gigante, que pelo odor já teve ter tomado o colchão. Nossa, como
isso é nojento, um campo de futebol de botão em forma de mofo! Idiota, não?
Agora, o mofo vira ideia fixa, e penso que qualquer dia não acordarei mais, pois
o mofo da cama me cobrirá como fez com o colchão e morrerei asfixiada! Um tanto
dramático. Agora me sinto nauseada e entalada pela ideia fixa e paralisante do
mofo. Acredite é uma sensação horrível, uma verdadeira bad! Viagem ruim, e ás
vezes, penso que sem volta. Sobretudo, rs, palavra engraçada! Quando não
controlo mais os pensamentos. E ao escrever lembro o tanto que gostava de
escrever. E que uma dia quis escrever um livro. A vontade aumentou depois que
conheci o Caio, não, não era qualquer Caio, mas o Caio F....é, ele mesmo o Caio
Fernando de Abreu! Sabe que não consigo lembrar como o conheci, mas lembro que
foi um dos melhores encontros da minha vida. Alguém que finalmente traduzia o
que eu sentia calada e de forma subterrânea. Ele via e vivia tudo que vivi e
queria viver. Até a dor, de forma disfarçada sobre o admitir-se amar.
Metafórico, viajado, o quê foram aqueles seres de luz naquele conto do Ovo
Apunhalado? Tudo era estranho e curiosamente atraente. Cada palavra atravessada
por sensações! Tesão. Nem Jorge Amado conseguiu arrancar de mim algo parecido
(só anos bem depois eu entenderia porquê!). A sensação mais apropriada, talvez
seja, excitação. Conexão. Ele escrevia o que eu pensava. E eu me
envolvia cada vez mais. Até que: passamos a esconder o meu maior segredo. Ou
seria abrigar, ou seria compartilhar. Na época eu estava apaixonada. E ela
também parecia estar. Ambas o amávamos. Parecia mesmo um triângulo amoroso. Ela
também queria escrever um livro. Nós éramos jovens e até tentei escrever um
livro. Coisas do amor. Um livreco sem pé nem cabeça. Para começar nem existia
uma “história” propriamente dita; Eu achava que simplesmente tinha que
acontecer. Brotar dos sentimentos e deixar os dedos fluírem. Tipo sexo lésbico
selvagem. Aquilo parecia um vício! Não, não o sexo lésbico (isso é o paraíso),
mas aquela química entre eu, ela e o Caio F., Samambaia, uns dos contos dele, ou
crônica, das que mais gostávamos. Eu tinha audácia, gostava de arriscar e me achava muito boa ( um tipo pseudo intelectual juvenil, pela carga de leitura,
até que passava, mas nunca fui isso e Joel Rufino, outro caro, me ajudou a
confirmar anos depois que nunca fui, nem serei uma intelectual – outro que pensa o que eu sempre pensei). Ela ainda
elogiava uma poesia e outra que escrevia, ou música, só de lembrar sinto
vergonha o tão patético que era, eu era letrista! Ou achava que era! Cantora de
banda de rock. Gente, agora entendo o que é a verdadeira amizade e até mesmo o
amor! As pessoas que ouviam aquilo, que eu chamava de música, deviam me
amar...e por que? Putz, eram porcarias adolescescas! E psináticas!!! O fato é que nunca tive talento, apenas um
pouco de imaginação! E muito sonho! Falando assim, me dá tristeza. Acho que
parei com tudo isso. Ou melhor, abandonei. Quando eu tinha os cabelos grandes,
me recordo de um brinco de pena indígena que comprei dos pataxós na faculdade,
que eu simplesmente amava! Algo atípico, pois nunca gostei de nada ornamental e
feminino. Usei por anos, até que os perdi, nem sei como. Sentia falta, doeu até,
só que esqueci. Era como uma mácula. Se si apegar sumirá! Pois bem, repetidamente
vivia perdendo os brincos que gostava. Não sei como, com as pessoas também é um
pouco assim. Amigos, familiares, amores. Meu eterno desleixo. Desconfio que não
gosto de outras gentes. Ou que não gosto de mim. E falo apenas por obrigação.
Odeio falar, principalmente quando falo demais. Esse homo. Humano demasiadamente
humano. Nunca li. O odor persiste no ar.
Não virarei o colchão. O mofo vigora no inverno.
Antagonista de Alexandra.
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