domingo, 11 de fevereiro de 2018

Sangue

Por que você some?

Eu machuquei meus tímpanos, quando cocei as orelhas com o bocal da caneta. Sangrou. Deu pra sentir com as pontas dos dedos. Solto sangue. Mas, que minutos depois coagulou e grudou nas pontas dos meus dedos. Ver isso, suspendeu minhas ideias. Lembrei do sangue que escorre todo mês. Que sou bem indiferente a esse. Que sei que doí mais, bem mais. Porque é sangue que anuncia a dor. O vermelho vivo, intenso e morto ao mesmo tempo. Cheira a ferro e a podre sem demora. Prenúncio da vida, da doença e da morte. Não sei se é imagem, ou, gosma. Mas, representa e é o que é. O gosto da boca partida que a cada gole da saliva se quer apagar. Úmida ferida aberta. Cicatriza? E logo virá outra. É se esbarrar num prego, o roçar da batata da perna na descarga da moto, o joelho no concreto, as mãos arranhadas depois do afago na gatinha de estimação. Sangra por amor. Por lutar. Por viver. Se fortalece com as transfusões negadas pelos fanáticos cristãos, que preferem beber o sangue de cristo em ocasiões especiais, a galinha a molho pardo, o pescoço do frango cortado e posto no tacho para o deus Exu, nas encruzilhadas da vida. O sacrifício é o sal da terra vermelha, rachada, sedenta de vida. Que engole a gente por pura terrafagia e nos alimenta, pois fertiliza as culturas que dela brotam. Raízes de urucum vibrantes sob a luz do sol. Que raia e se põe na dor latejante que se esvai por si, por fim.   

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