segunda-feira, 12 de julho de 2010

Dos tempos 10.




Desde aquele dia que uma canção não sai da minha cabeça. É, aquele dia em que acordei na beira da praia...com areia na calcinha! Eu cantarolo a canção e me pego rindo. Volta e maia rindo atoa. Agora com certo distanciamento pergunto o que me deu? Como conseguir tal proeza? Sabemos que não era eu, era Alexandra! Alexandra, aquela mulher qualquer que me possuiu, roubou-me de mim. Eu podia ter morrido afogada, meu corpo, mas não minha mente, questiono até se minha alma? Mulherzinha qualquer, biscateira, puta, embriagada, fumada uma desgraça!

Mas eu rio sem freios quando lembro “...se acaso me quiseres eu sou dessas mulheres que só dizem sim...”. Sim. Súbitos sins. O risco mais gostoso de toda a vida até ali.

Depois voltei, da mesma forma que cheguei lá. Agora peguei um ônibus que eu sabia que me deixaria na rua de casa. Era umas onze horas da manhã. Ninguém me viu chegar, pois todos já estavam na rotina diária. Ainda tonta e tentando entender me joguei em baixo do chuveiro, o mesmo banho quente que aquece meu sangue frio. Vi marcas no meu corpo, umas mordidas, umas chupadas com tom azul arroxeado. Uma seqüência de fleches, imagens deslocadas, um turbilhão de pensamentos. Eu abria e fechavas os olhos e minha cabeça latejava mais e mais. A espuma estava marrom, um lodo e muita areia escorriam até o ralo. Aos poucos a inhaca fedida cedia lugar para o cheiro agradável do shampoo.

Eu não estava arrependida, mas me empenhei em esquecer. Fui até o quarto da minha mãe e peguei um de seus soníferos. Tomei e acordei às cinco horas do dia seguinte com o barulho do despertador. Algo que me fez sentir novamente a Madalena que sempre fui. Presa ao relógio, condicionada à suas horas. Senti meu peito apertar, mas em seguida veio o alívio. O confortável alívio de não ter me acontecido nada pior.

Pensei em contar para Bia, sempre dividimos angústias. Mas me contive. Ela sempre esteve a mil passos de mim, com seu espírito de aventureira inveterada. Mas, hesitei. Fiz um pacto de silêncio comigo mesma. Para manter o mistério e preservar a identidade de Alexandra. Ela me deu prazer. Então guardarei segredo para não quebrar o clima de perigo e não deixar escapar o gosto da adrenalina que saboreei naquela noite.



Por Madalena.

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