Às vezes sinto meu coração em pedaços, uma dor sem
cabimento, um aperto que é mais dos outros do que de mim. Lembro dos mortos e
das dúvidas: por que? Principalmente se for morte de covardia. Aquela que rir e
olha nos olhos antes de executar. Meu corpo treme e meus olhos se desmancham e
essa dor não é minha? Uma desesperança me toma, meus pensamentos turvos, as
forças em fios estilhaçam em algo difícil de juntar. Fazer o quê? Uns
perambulam, outros gritam e se vestem com camisas e cartazes, há os que
ascendem velas e os que xingam por justiça. Palavra rala, “de cor branca”, sem
medida “longe da balança”, uma mentira “contada mil vezes se torna uma verdade”.
Essa ilusão que nos diz: há esperanças. Há? No ar, resta tentar. Mesmo se for
erro e tentativa. Do meu íntimo, sempre barquinho, sentido no rosto e na boca o
sal do mar e da terra. Terra mais uma vez vermelha. Regada dos sangues negros.
Como não doer? Tá doendo tanto. A menina Maria tá certa, como não vingar? Como
não querer usar ferro, fogo e também matar? Há que serve a medida, se a régua tá
torta e a reta é só uma metáfora científica diante da natureza indômita, voraz,
que domina via carnificina. Eu vago no mar revolto, eu explodo, eu morri por
volta de 21:30 de uma noite de quarta-feira, em uma capital do meu país.